sexta-feira, agosto 31, 2007

 

Ideia Dita


De que serve a verborreia
Tanta ideia em diarreia
Ciência erudita, dita
Na desdita da sanita?


segunda-feira, agosto 27, 2007

 

Perecer


Finou a vida d'outrora
Agora!... que o Sol se põe
E aqui!... que Deus dispõe
Agora!

E não, e não desisto
E se me falta alegria
Não posso ter cobardia
E insisto!

Porque isto é Natureza
De presunçosa beleza
E austera;

E a morte vida é
pois sou pessoa de Fé
pudera!

fernando martins


domingo, agosto 26, 2007

 

Insónia


Eu sinto, em noite de insónia
Quando muito atormentado
Que vou sendo cozinhado
Plo Demo e pla Demónia...

Mas se me serram o peito
E me temperam de sal
Sei que não fiz bem o mal
Nem fui injusto perfeito...

Sou, contudo, condenado
Por virtude - e eu não presto! -
Só me poupei no pecado;

Pelo que intento protesto
Quando à garfada atacado
De lhes sair indigesto!

fernando martins


sexta-feira, agosto 24, 2007

 

de uma só linha - 13

Certos livros só se justificam pelo papel reciclável em que são impressos.

 

O Nada Morto

Esta é a história do homem que não sabia nadar. De um homem não nadante em terras – e em águas – de exímios nadadores. Vejam lá: como poderia ele desenvencilhar-se?!
Mas todos o queriam ajudar. Lá isso é verdade. Não desejavam que se afundasse, já que, no fundo, até gostavam dele.
Este senhor era boa pessoa, sempre amigo do seu amigo, sempre solícito, sempre de sorriso de orelha a orelha; um cavalheiro. Só não havia meio de aprender a nadar. E o facto era lamentado publicamente.
Geralmente davam-lhe lições teóricas, aqui e ali, sobre, por exemplo, como se poderia começar por aprender a boiar, ensinando-lhe certas terminologias técnicas como a do “corpo morto”.
E verdade verdadinha é que a nossa personagem nunca chegou sequer a boiar, a matar o corpo para o acto, penso que mais por alergia intelectual a estes termos e a estas posturas do que, propriamente, por qualquer incapacidade física para o fazer.
Este homem tinha um pensamento sobre as coisas que, às vezes, parecia bloquear-lhe o exercício de certas práticas como as prosaicas práticas de boiar ou de nadar.
É também verdade, e temos de o registar, que os modelos de nadadores apontados e copiados por aquela população insular eram os dos polvos e das lulas, também das alforrecas, dos chocos e de outros membros desta família sem esqueleto.
-Vês? Começas por boiar. – E apontaram-lhe, um dia, uma alforreca.
Mas o nosso ignorante em matéria de natação preferia o paradigma flutuante do peixe imperador, do badejo ou do peixe-espada; e despedia normalmente os seus professores informais com estas palavras: Eu julgo que nunca nadarei senão como aqueles que têm espinha como eu.

fernando martins

 

Presente Enviado


O presente de ontem
Não é presente
Não é presente
O presente enviado...

Presente-prenda
Presente de laço
Presente baço
Embrulhado...

Presente grande
Grande fardo
Presente pardo
Ao meu cuidado...

Presente é gente
Presente falante
Não distante
Prendado...

O presente de ontem
Não é presente
Não é presente
O presente enviado...

fernando martins


domingo, agosto 12, 2007

 

Desprezo

Estando em férias, estou também a revisitar a minha biblioteca, pelo que li, entre ontem e hoje, a obra "O Desprezo" de Alberto Morávia, uma estória interessante; muito inspiradora de reflexão.
A narrativa conta com quatro personagens: um produtor de cinema, um realizador, um argumentista e a mulher deste. É esta senhora que empresta o título ao livro, pois "despreza" o seu marido por considerar este, a quem antes muito amava, um fraco; e por julgar, erradamente, que o seu cônjuge anda, subtilmente, a oferecê-la ao seu patrão-produtor que lhe paga os vencimentos.
A crónica distracção e ingenuidade do agora desprezado marido faz sofrer imenso os dois membros do casal.
É um livro de agradável leitura e uma estória exemplar.
Editora Ulisseia

 

Improviso

Ao parceiro de curso, Fernando, nos seus anos, em festa no intervalo duma aula...

Fixemos, Fernando, o feliz momento
De efémera festa que faz felicidade
Que mesmo se é fugaz como é o vento
É um fecundo fazer d' eternidade...

Neste curso, amigo, és formando
Mas na vida, Fernando, és bem formado
E vemos isso, companheiro, quando
Ajudas, sem reservas, o parceiro ao lado...

Que Deus te abençoe, irmão, no grande dia
De mais um ano de juventude infinda
Que esta vida, bem entendida, é linda
E pode ser desfrutada em alegria...

Não te canses, pois, de ser homem de bem
Nem te arrependas dos gastos d' uma festa
Que bem ages; e a razão é esta:
-É Graça e de graça o bom que a vida tem...

... Um gesto de ternura, d' amizade,
Um sorriso, um estar e ser,
Uma gota de água de saudade,
O "clic" * que nos faz acontecer...

fernando martins
* Estávamos num curso de computadores.




sábado, agosto 11, 2007

 

Bodas de Ouro - 14/7/2007


É já de ouro
O nosso amigo!
É já de ouro...

Brilhando,
É como luz!
Que apela...

Maduro,
é como trigo!
Louro...

E discreto,
Como espiga!
Cheia...

É simples
Como pão!
Sacia...

É como vinho!
Está melhor
Ainda...

É como água,
Cristalino;

É avô,
E é menino!

fernando martins


sexta-feira, agosto 10, 2007

 

Regra do Convento

" 'Faz o que Quiseres' era a única regra do convento". Quem mo recorda, agora, é Fernando Savater, catedrático de Ética da Universidade do País Basco, na obra "Ética para um Jovem" que acabo de ler.
E o convento existia, e existe ainda, num romance de Francois Rabelais, escritor francês do século XVI, com o título de Gargântua.
"Faz o que Quiseres" é a frase inscrita à entrada desse convento; e Fernando Savater diz-nos que a mesma mensagem se encontra também gravada "à porta da ética", esta entendida como deve ser.
Este professor-escritor diz-nos ainda que resolveu lembrar-nos a lei única do convento "para que levemos a sério o problema da nossa liberdade". Todavia, acrescenta que uma coisa é fazer a gente "o que quiser" e outra, bem diferente, é fazermos "a primeira coisa que nos apeteça".
Afinal o assunto é mais sério do que parecia; e fazer só o que quisermos pode até ser demasiado cansativo para ser posto em prática nas férias...
Obra: "Ética para um Jovem" - Editorial Presença


terça-feira, agosto 07, 2007

 

Grua

Já aqui comentei livros mas nunca escrevi motivado por notícias de jornal. Estreio-me agora.
Diz o "Público" de hoje; li-o de manhã e cito-o agora de cor: Um operário de 46 anos é acometido de paragem cardio-respiratória enquanto trabalhava em cima de uma altíssima grua. Os bombeiros não tinham escada de tão ousada dimensão com que o pudessem socorrer. Uma enfermeira do INEM, sem etiqueta, sem calculismo e, sobretudo, sem delongas: sobe pela inóspita estrutura da grua, mochiletada com o equipamento necessário ao socorro. Não pôde, infelizmente, salvar aquela vida que estava lá tão perto do céu, mas esteve à altura da sua dignidade profissional e do altruísmo da sua divisa.
Muito alto está quem assim se eleva.
Entrego-lhe a merecida condecoração.
fernando martins


segunda-feira, agosto 06, 2007

 

O Curso das Coisas

Pedem-me palavras acerca de um curso que fizemos. Aqui vão...

Do curso, o que recordo,
São as notas positivas,
Das pessoas tão festivas,
Com que adormeço e acordo...

Busquei ali competência,
E com ela vim feliz,
Transportando a sapiência
Das amizades que fiz...

Que um livro é cada parceiro
Na idiossincrasia
Do seu texto verdadeiro
Que ensina filosofia...

E o mais não é relevante
Nem curso de sociologia
E as notas não vão adiante
De contas de mercearia...

fernando martins


quarta-feira, agosto 01, 2007

 

O Ter e o Ser


A minha vida não tem preço.
E não cedo ao ter, isso que tem?
Se te abordo, não te peço
Que a tua fortuna até te fica bem...

Afinal, tu és como alguém
Um cofre-forte que eu conheço
Que não possui riqueza mais além
Que veja que eu de inveja não padeço...

Atrás do ser tu não pereces
Atrás do ter eu não pereço
Tu és o que pareces

Eu sou o que pareço
Tu tens o que mereces
E eu sou o que mereço.

fernando martins

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