terça-feira, junho 24, 2008

 

Os Banqueiros da Fome

Segundo o Diário do Minho, o Banco Alimentar Contra a Fome abre em Braga a 16 de Outubro próximo. Em Braga, Portugal, União Europeia. Não no Zimbabué, Sudão, Coreia do Norte.
E abre aqui esse banco, com uma espera de quatro meses. Porque a fome não é momentânea, espontânea, como se fora trazida pela guerra, por um regime político louco, por um cataclismo natural, por um conflito étnico-religioso próprio dos séculos passados. A fome, por aqui, é fruto da qualidade do nosso desenvolvimento: há muito que comer, deitam-se ao lixo, diariamente, milhares de toneladas de alimentos e há por aí fome de cão até dizer chega. E o banco, pelo que se depreende, vai ser abastecido com aquelas toneladas que se deitariam ao lixo e assim se passam a deitar aos pobres porque o capitalismo e as almas mais generosamente cristãs encontraram uma genial solução: reconhecem a classe social dos esfomeados e apressam-se a valer-lhe.
Este género de resposta social é adequadíssimo para aqueles beneficiários que aceitam definitivamente o seu status de famintos, mas para os famintos envergonhados e para os famintos temporários, que tenderão, igualmente, a esconder o seu infortúnio, a resposta de nada serve. Mas é um incentivo a que estas duas últimas categorias de famélicos se transfiram para o primeiro grupo e engrossem o mercado da novíssima invenção bancária.
Porque no desenvolvimento capitalista nada se perde e tudo se transforma e a situação actual dos que não têm direito ao prato até traz imensas vantagens à causa da caridade cristã, que não pergunta - contrariamente ao que ensinou o saudoso D. Helder Câmara - porque é que há pobres; e à esquerda comunista que, diante desta desigualdade liberal, melhor vende a sua igualdade ditatorial.
Avante, pois, com o banco da fome e parabéns aos banqueiros da malga.


domingo, junho 22, 2008

 

Ó Meu Rico S. João de Braga - 2



Hoje vou ser atrevido
N' Avenida Liberdade
Porque em Braga faz sentido
Um S. João sem piedade

Viva a popularidade
Do S. João padroeiro
Que irmana na cidade
Bracarense e forasteiro

Na Braga que foi romana
A Rusga de S. Vicente
Toda ela se engalana
Para deleite da gente

Cidade universitária
A nossa Braga erudita
Tem S. João, é de todos
E muito cosmopolita

Gosto muito desta aldeia
Braga cheia que nem ovo
Com gritaria plebeia
Da alma nobre do povo

Lá vai a perfumadinha
De mangerico na mão
Agarrada ao seu braguinha
Que engatou no S. João

Neste aperto aflitivo
E no calor da noitada
Eu cá vou todo festivo
E a mulher desconfiada

Venha ao S. João e traga
Os amigos e a família
Que "é bom viver em Braga"
Traga também a mobília.

fernando castro martins

 

Cento e Vinte Pessoanos


Semeou Deus tantas pessoas
em um só Fernando,
que este, de tão grande,
lhe basta ser Pessoa.
*

*Premiou-me o Diário do Minho com um livro por considerar este meu ajuntamento de palavras uma das quinze melhores frases sobre Fernando Pessoa, em concurso/passatempo público que promoveu nos 120 anos do Poeta. Ver Diário do Minho, suplemento de cultura, de 18 de Junho p.p.
Melhor prémio para mim, escrevedor ainda não reconhecido, seria a publicação deste meu minúsculo textinho, que o jornal resolveu não levar ao prelo das suas páginas.
Ainda assim, deixo um comovido obrigado ao muito católico jornal da nossa cidade de Braga que praticou a sua mais tradicional caridade evitando promover o pobre que sou para justificar a esmola que me dá.
Um Bem Haja, sr Director.


domingo, junho 15, 2008

 

Ó Meu Rico S. João de Braga



Anda o povo separado
Da sua vida aziaga
Com o dia dedicado
Ao seu S. João de Braga

S. João é romaria
Do povo que goza e reza
Que ora com alegria
E no foliar se preza

Goza e reza o folião
Reza e goza o puritano
Que em Braga o S. João
É beato e profano

Gozando a cidadania
No S. João o meu voto
Inclui também a folia
De que sou grande devoto

Ser romeiro são-joanino
Nesta cidade vetusta
É ser também peregrino
Da nobre Bracara Augusta

É costume são-joanino
Nesta cidade braguesa
Ser o povo peregrino
Da sua Roma Portuguesa

As festas mais genuínas
Deste Portugal festeiro
São em Braga as São-Joaninas
E di-lo um forasteiro

fernando castro martins

This page is powered by Blogger. Isn't yours?