sábado, agosto 30, 2008

 

Que Miséria!

Há menos pobres no mundo do que há vinte e cinco anos mas há agora mais pessoas a viver em condições de pobreza extrema nos países em desenvolvimento , diz o Banco Mundial.
Esta instituição calcula ainda que a actual crise petrolífera pode agravar os números da pobreza em 100 milhões, e prevê que, em 2015, cerca de mil milhões de pessoas vão viver com menos de noventa cêntimos diários.
É caso para dizer: Que miséria de Humanidade.


quinta-feira, agosto 28, 2008

 

Temas de Braga - 8

A Agere, empresa de água e resíduos de Braga, anuncia que vai apertar o cerco ao lixo colocado fora de horas para recolha pelos seus serviços. Esta entidade tem competência para aplicar coimas, e é bom que o faça, porque as palavras, só por si, não limpam ruas. Mas faça a empresa também pedagogia, onde ela for necessária, já que há gente que leva muito tempo a aprender, e é de bom-tom reprimir o delito mas não a ignorância.
E depois de avisadinhas, meu amigo, caiam multas a doer em prol da higiene pública!


quarta-feira, agosto 27, 2008

 

Temas de Braga - 7

O Presidente da Junta de S. Lázaro queixa-se da "opção" arquitectónica da nova sede da Associação de Reformados Unidos de S. Lázaro que a fez "impraticável por tão exígua" - para uma colectividade que tem mais de uma centena de sócios - e oferecendo "uns recantos" bem propícios às picadinhas dos toxico dependentes.
Palavras certeiras, estas, que se dirigem não só à Câmara Municipal mas, também, aos senhores arquitectos que, às vezes, parecem mais interessados em ostentar o seu design do que em prever a funcionalidade da obra.
Há por aí muitas destas construções esquizofrénicas e eu recordo sempre, nestes momentos, umas célebres pirâmides que há na Avenida Central que supostamente deveriam honrar o Papa João Paulo II mas os populares viam ali um mijadouro público e usavam-no com essa função. Posteriormente, foi ali colocado um tapume de vidro e agora parece que já ninguém mija na homenagem a Sua Santidade.
Depois não nos venham dizer que o povo não tem eficiente participação de cidadania...


terça-feira, agosto 26, 2008

 

Temas de Braga - 6

Uma passadeira de peões inteligente é a novidade que está a fazer enorme sucesso na Avenida da Liberdade, em Braga. Devemos dizer que a sua criação é de uma empresa bracarense, a Sernis, e o produto foi considerado um dos dez melhores na feira de segurança rodoviária de Amesterdão, que é uma das mais importantes do sector a nível mundial.
Nem tudo é mau neste país e Braga tem, também, destas excelências.


segunda-feira, agosto 25, 2008

 

Memórias da Serra


Foi ali pela década de oitenta. Éramos três, eu e os dois irmãos Marques: o Amândio e o José.
Fomos num mini (lembram-se do mini, que era um carro do tamanho de um ovo?). Fomos num mini, dizia, até ao perímetro da serra e o objectivo era percorrer, a partir dali, a pé, o Gerês, a Amarela, o Soajo e a Peneda, numa semana; e conhecer quanto houvesse.
A primeira etapa foi em Leonte. Parámos o mini e logo começou a chover fortemente. Abrigámo-nos ali num telheiro da abandonada casa do antigo guarda florestal. Havia lenha, acendemos uma fogueira e secámos as roupas. Petiscámos conservas. Dormímos ali mesmo.
Pela manhã fomos acordados por um senhor que parecia vir reclamar a sua propriedade. Momentos depois já o tratávamos pelo seu nome e usávamos todo o nosso charme para fazer dele nosso cúmplice. Ele usava a casa do guarda rm ruínas, durante o dia, como apoio ao seu trabalho de vigilância dos garranos selvagens e de outros serviços à serra. De seguida já ele nos convidava a usar a casa principal do rudimentar aglomerado serrano que compreendia ainda outros anexos e um enorme tanque de água corrente. Uma vez ali, logo começámos a cozinhar, com lenha, as batatas e o bacalhau do nosso anfitrião em conjunto com as nossas conservas de sardinhas e lulas, tudo na mesma panela.
Fizemos uma refeição comunitária a quatro, muito saborosa e afectiva, e estava o caminho feito para que o nosso anfitrião se transfigurasse em guia turístico. Visitámos tudo ali à volta sob a sua orientação: espécies vegetais de grande e pequeno porte; ouvímo-lo, mais do que vimos, acerca da diversidade faunística.
Tivemos ali cama na segunda noite: enxergas para os três, sem lençóis nem cobertores, mas riquíssimas em insectos esfomeados e atrevidos.
O nosso guia não dormiu connosco na estalagem romântica. Tinha melhor leito numa aldeia vizinha, na casa de seus pais, pelo que nos despedimos dele para tratarmos de nós próprios.
Pela manhã reparámos que faltava a gasolina no mini. Esta, só deu para o primeiro quilómetro. Mas isso não foi problema: estávamos no alto e para descer não precisávamos de motor. Só em pequenos percursos tivemos de empurrar o nosso excelente veículo, no resto do tempo fomos escorregando, dentro dele, ao longo de sete quilómetros, até à bomba, na vila do Gerês.
Entretanto, tínhamo-nos banhado no rio Homem, lembro-me de que o fizemos totalmente nus, por falta dos convenientes fatos-de-banho. Também recordo termos afogado logo a máquina fotográfica ao primeiro disparo de dentro da água, pelo que não ficou registo de nenhum daqueles inauditos momentos da semana.
Ao segundo dia parámos o mini na barragem de Vilarinho das Furnas com o propósito de só o levantar dali cinco dias depois. Deveríamos caminhar pelas serras fora até à Senhora da Peneda. Confiávamos na perícia escutista e no sentido de orientação do José Marques.
A chuva miudinha e o sol envergonhado iam-se-nos oferecendo interpoladamente.
Investimos pela Amarela, não sem antes contemplarmos as ruínas da aldeia comunitária de Vilarinho que espreitavam da água da barragem que as imergira nos anos de 1970.
A meio da serra, tentámos tirar o nosso cafezinho da italiana de pressão: acendemos umas folhinhas, colocámos nelas a cafeteira mas não saiu café. Acabámos por nos compensar com um gole de aguardente que preveníramos com uma garrafa de três quartos de litro.
Perdemo-nos na serra. Zangámo-nos. Uns queriam seguir em frente; uma voz optava pelo recuo. Sabíamos que para trás havia, se corresse bem, duas horas de caminho. Para a frente era o escuro absoluto.
Venceu, contudo, o impulso da aventura e seguimos em frente. À noitinha já estávamos a dormir debaixo de um espigueiro em Lindoso. Contámos o dinheiro e fomos a uma tasca comer um arroz de tomate e duas doses de bacalhau. Desforrámo-nos da fome de um modo que nem vos podemos contar. Bebemos bem do bom vinho.
Pela manhã caminhámos até à Várzea do Soajo, uma aldeia que ía perder as suas terras de cultivo para a barragem do Lindoso, então em construção. Bebemos um sublime licor caseiro na venda do senhor Alexandre, feito, garantidamente, com uvas americanas. Comprámos um naco de pão duro, de milho, numa humilíssima casa de família, a nosso pedido. Dormímos nas imediações num forno-abrigo de pastores que o senhor Alexandre nos indicou.
De manhã, tentámos atravessar, no vau, o rio Lima. As mochilas, nas costas, pareciam, numa primeira fase, fazer o papel de bóia tornando-nos um pouco mais leves, e assim caminhámos até ao centro do rio. Mas, a dado momento, as mochilas já cheias de água ensopada com as roupas, puxavam-nos para o fundo. Também a corrente lutava connosco e nós com a corrente. Safámo-nos recuando.
Fomos contar a peripécia ao senhor Alexandre e ele avisou-nos de que, do outro lado do rio, era Espanha. Que tivéssemos cuidado porque, vistos ali, podíamos ser acusados de contrabandistas. Ainda não havia União Europeia.
Estávamos já esgotados, com pouca comida, pouco dinheiro, pouco sonho. Ainda tentámos reencontrar o caminho para a Peneda, caminhando mais alguns quilómetros, mas já tínhamos imensas saudades do nosso mini.
Iniciado o regresso, acomodámo-nos para dormir na Amarela, envoltos nos sacos-cama, transidos de medo, embrenhados nas urzes. Choveu nessa noite. Já não tínhamos pilhas nas lanternas. A noite estava preta, húmida e fria.
Tentou cada um ajeitar-se à situação e, daí a pouco, já não sabíamos uns dos outros. Era cada um à procura de dois. Lá fomos emitindo os nossos próprios uivos, os sons mais fortes de que dispúnhamos, servidos de fome, de sono e de algum desespero.
Daí a pouco já estávamos de novo juntos, apalpando o caminho até um ponto onde a intuição nos dizia estarem umas ruínas de um moínho de vento que fora pertença da antiga aldeia de Vilarinho. Foi nessas ruínas que os três, já também em completa ruína moral, passámos a última noite, tendo umas pedras por travesseiro e a restante aguardente como remoto conforto. A chuva passou de leve a pesada, batendo sem piedade naqueles amados restos de paredes que nos protegiam. Mas, de manhã, tínhamos o nosso lealíssimo mini, ali, ao pé da barragem, na sua paciente espera.
Abeirámo-nos dele, ordenámo-nos em fila indiana e beijámo-lo, à vez, emotivamente.


domingo, agosto 24, 2008

 

Uma Nova Oportunidade

O Presidente da Câmara Municipal de Ponte da Barca regressou à escola. Era o único do seu executivo que não possuía licenciatura: tinha apenas o 9º ano de escolaridade e nem precisava de mais, como prova o seu currículo profissional e cívico; e também o seu perfil de liderança. Como ele diz, o que estudou para subir na carreira, até ser de chefe de finanças, dava para ter feito três cursos superiores. Nada me custa acreditar. António Vassalo Abreu, assim se chama este senhor, tem de corrigir, diariamente, as inúmeras pessoas que o tratam por doutor ou engenheiro. Não deixa passar a falsidade, nem disso precisa. Mas diz que vai ainda para a universidade. "Para dar o exemplo".
Também eu recebi o meu diploma do 12º ano, tal como António Vassalo. Somos ambos da primeira fornada do RVCC - Nível Secundário. Também eu irei, ainda, para a universidade, se também isso for oportunidade. Sou até mais novo cinco anos que o Senhor Presidente - tenho cinquenta e dois -, e somos ambos ainda muito meninos para aprender.


sábado, agosto 23, 2008

 

O Não e o Nada

Luís Filipe Meneses já faz a oposição a Manuela Ferreira Leite que esta deveria fazer a Sócrates. O primeiro era um fala-barato e a segunda quer fazer o contra-ponto, não falando por preço algum. Mas não é a opção avisada, a oposição faz-se pelo aparecer, pela palavra, pelas propostas. E a Manuela não existe. E se não existe, como vão nela votar os eleitores?
É um problema: as oposições costumam entreter-se a desfazer tudo o que os governos fazem, esteja certo ou errado; agora, a líder da oposição ocupa-se a desfazer o estilo do seu antecessor, que considera errado.
Se o outro era negativa, esta é apatia. Não temos mulher.


sexta-feira, agosto 22, 2008

 

O Preço das Medalhas

Duas medalhas, uma de ouro e outra de prata, para os nossos excelentes meninos Nelson Évora e Vanessa Fernandes, respectivamente, não têm preço. E podemos dizer que Portugal, país tão pequenino, saiu a ganhar destes Jogos Olímpicos/2008.
Posto isto, podemos fazer contas: talvez os 12.ooo.ooo de euros que o governo investiu nesta empresa, entregando-os ao Comité Olímpico Português, não tenham tido uma rendibilidade satisfatória. Será que todos os nossos atletas não premiados deram o seu melhor? Seria adequado apostar em todos eles? Teria o governo gerido o dinheiro de todos nós com o mesmo rigor que é pedido à indústria desportiva privada? Com doze milhões de euros até eu conquistava umas medalhinhas ali na ourivesaria da esquina.


quinta-feira, agosto 21, 2008

 

Família, Fidelidade e Filhos

O sr Presidente da República vetou a nova lei do divórcio. Levanta questões sobre a pretensa precariedade do compromisso do casamento.
Também não me parece que este acto contratual deva ser celebrado e denunciado de ânimo leve.
As pessoas não são coisas e parece pretender-se que os vínculos entre elas sejam descartáveis com mais facilidade do que, por exemplo, um contrato de trabalho. Ora as pessoas têm afectos, têm filhos, têm família.
Os divórcios às vezes procuram resolver problemas mas também criam sofrimento. Outras vezes nem se trata de dificuldades de relação; trata-se da mais pura leviandade.
É verdade que as famílias tão têm de ser hoje o que sempre foram; ou o que se pensa que sempre foram. E haverá lugar para o pluralismo. Mas a fidelidade também é um bem e o amor também implica sofrimento mútuo. Aqueles que dizem "acaba o amor, acaba o casamento", decerto nunca amaram.
E quando o amor parece acabar, periodicamente, e renasce sempre com mais pujança? Também há esses casos. Aí, se a separação se consumou no momento, poderá ter provocado tragédias pessoais.
Eu, que já fui sindicalista, conhecia o princípio da parte mais forte e da parte mais fraca nas relações laborais. Nesse quadro, as leis tendiam, e tendem, a favorecer a parte mais fraca, economicamente falando: os trabalhadores. Mas numa relação conjugal nem sempre é fácil de reconhecer a parte mais fraca, por exemplo, quando não há maus tratos ou culpabilidade evidentes. Os afectos regem-se por outros pressupostos e as leis não devem vir para atrapalhar.


quarta-feira, agosto 20, 2008

 

Elefante Pequeno

José Saramago está aí com um novo livro, chamado A Viagem do Elefante. Registei um facto: trata-se de um livro pequeno, 240 páginas, a que o autor chama de "um conto". Estará nas bancas em Outubro e eu lê-lo-ei. É um livro, por certo, desprovido de gorduras, como são os de um outro escritor de quem eu gosto: Baptista Bastos. A este último ouvi eu um dia dizer por brincadeira - estava ele em Braga, na Feira do Livro -, que escrevia livros pouco volumosos para que não fossem eles cair nos pés dos leitores e magoá-los. Folgo, assim, que também Saramago nos dê mais um livro curto, que será seguramente culto, como sempre. É que eu gosto mais de letras que de papel. Feitios.


terça-feira, agosto 19, 2008

 

O Dedo de Catalina

Catalina Pestana pôs o dedo na ferida, na sua crónica semanal em O Sol, de Sábado passado: alguns bispos foram excluindo determinados sacerdotes (suspensão a divinis), por estes levarem um pouco longe (de mais?) os seus deveres de cidadania, enquanto encobriram outros padres altamente delinquentes. Referia, nos primeiros casos, os padres Felicidade Alves e Martins Júnior, de quem se disse amiga; e no segundo caso, o famigerado padre Frederico, acusado de pedofilia e suspeito de assassínio.
Catalina, que é católica como eu, alegra-se com a reconsideração da Igreja acerca de Felicidade e de Martins, pois acabou por celebrar o Matrimónio do primeiro, já no fim da sua vida; e prepara-se para receber, de novo, Martins Júnior, com todos os seus direitos sacerdotais.
Não há dúvida de que a Igreja Católica, ao mais alto nível, esteve altamente comprometida com o regime salazarista e teve imensas dificuldades em adaptar-se aos tempos democráticos, por um lado, e, por outro, nunca foi capaz de reconhecer os ultrajes morais que iam ocorrendo no seu interior.
Mas devo saudar estes novos tempos e estas novas atitudes.


segunda-feira, agosto 18, 2008

 

Temas de Braga - 5


Um dos mais impressionantes monumentos da arte barroca portuguesa, o Mosteiro de S. Martinho de Tibães, aqui ao lado de Braga, é hoje propriedade do Estado, depois de ter passado por mãos de particulares, que o deixaram parcialmente em ruínas.
Este convento está a ser submetido a um longo e minucioso processo de investigação arqueológica, inventariação e restauro; mas pode-se já desfrutar das partes recuperadas e conhecer, mais em pormenor, o que foi e o que pode vir a ser este esplêndido espaço monumental.
Entre os vários usos previstos para o seu extenso edifício vai ser ali instalada uma pequena comunidade religiosa que prestará serviços de restauração e alojamento aos visitantes.
Parece-me bem esta opção. Há por aí imensos edifícios históricos cuja vida se resume a recordações; e outros há que se transformaram em pousadas para usufruto exclusivo das classes ricas que podem pagar chorudos preços. Aqueles são essenciais e estes são necessários. Mas manter nos monumentos históricos alguns dos seus usos tradicionais e culturais é ainda melhor. E permitir um acesso democrático a todas as classes sociais é excelente. Parece que viram bem o problema. Por mim dou nota positiva aos senhores responsáveis.
(Ver:http://mosteirodetibaes.org)


domingo, agosto 17, 2008

 

de uma só linha - 24

A barba, o banho e o blogue: eis o rosto da minha higiene diária


sábado, agosto 16, 2008

 

retrato de ti


quantas vezes
puseste a ave
a alma e o sonho
em teus poemas

tu repetes sempre
esses veículos
de sons e sentidos
que são teus

e não mudes
diz-te sempre
assim tal qual
te saem as palavras

e repete as cores
não te importes
que eu gosto assim
do teu retrato.

fernando castro martins


sexta-feira, agosto 15, 2008

 

Assaltos à Mão Armada

Wellington abaixo, Wellington acima. Sempre Welington. A comunicação social já encontrou mais um herói e as revistinhas cor-de-rosa não tardarão a informar quantas namoradas vai conquistar a personagem, em cada semana. A figura da notícia é um jovem delinquente que tentou um assalto à mão armada.
Mas tem nome de gente, o miúdo, o mesmo nome - ou título! - que tinha o general que derrotou Napoleão em Waterloo.
E para a comunicação social, caras bonitas, nomes sonantes e sangue correndo é dinheiro em caixa.
Esta comunicação social está, também, a assaltar a nossa dignidade.


quinta-feira, agosto 14, 2008

 

O Direito dos Esquerdinos à Esquerda

Ambos os candidatos à Casa Branca são esquerdinos, dizem os jornais.
Coisa normal que só merece notícia, decerto, por não haver nada de inteligente para dizer nesta malograda e idiota estação (silly season?).
Devo dizer, então, que acho uma iniquidade que seja obrigado um esquerdino a proferir o juramento de novo presidente da América com a mão direita sobre a Bíblia. Então não está escrito nesse magno livro que somos todos filhos de Deus? E não se discute hoje na América acerca da dignidade de todas as diferenças? Porque não pode o novo presidente jurar que vai agir com a mão das suas acções?


quarta-feira, agosto 13, 2008

 

de uma só linha - 23

O oposto de mau é bom ou mau oposto.


terça-feira, agosto 12, 2008

 

Temas de Braga - 4


"Este é o Sonho"- diz o inquieto grupo de "Mulheres em Movimento" que, em Mire de Tibães, está a atear uma incrível revolução de solidariedade.
São voluntárias, começam por pagar do seu próprio bolso as despesas do trabalho gratuito que fazem, mexem-se como Marias da Fonte dos nossos dias. São dúzia e meia. Nada muito, mas com muita obra já realizada. Elas são assim: estão ainda a "sonhar" e já ninguém segura nelas.
O empreendimento começou há sete anos. Era preciso apoiar os idosos e nunca ninguém, por ali, tinha agido como deve ser.
Elas - as mulheres do povo - são, já o sabemos, peritas nos afectos e na prática da justiça para todos: ali, está um esplêndido testemunho.
A obra deve-se a elas, mas, dada a dimensão adquirida, aquela é, hoje, propriedade da paróquia de Mire de Tibães. Com apoio do Estado. Mas será de imprescindível justiça que elas continuem a ser as líderes, as gestoras. Porque, já sabemos: na Igreja, por muito poucos padres que haja, estes têm de mandar em tudo. Assim o permite o Direito Canónico e assim eles gostam.
Porém, do actual pároco de Tibães espera-se o melhor discernimento dado que se trata de um jovem padre altamente inteligente, sensato e com formação adequada aos dias de hoje.


segunda-feira, agosto 11, 2008

 

Apatia


quero
fazer verso e não há tema
desespero da fútil monotonia
pondero sobre a falta de harmonia
delibero jamais compor poema

considero desleal esta apatia
mero bloqueio cruel dilema
tolero e faço meu qualquer problema
espero aquietado um novo dia

lidero a vida assim e por remédio
vocifero que alguém venha até mim
sincero e me demova deste tédio

exaspero de estar tão calmo assim
gero compaixão e brando assédio
persevero então lutando enfim

fernando castro martins



domingo, agosto 10, 2008

 

de uma só linha - 22

Como eu gosto de escrever para mim e para a minha ilusão de que me lêem.

 

Soljenitsin e o Seu País, Ontem e Hoje

A Morte de Soljenitsin despertou-me para uma olhada no seu Arquipélago do Gulag: tenho ali o livro, é do meu filho, são mil e duzentas páginas desmotivantes, mas, ainda assim, peregrinei nele um pouco.
Fico com a ideia de que se trata de uma obra absolutamente necessária; que desempenhou um papel histórico importantíssimo; mas não estou nada convencido de que, literáriamente, merecesse o prémio nobel. O meu grande escritor russo é Tolstoi, mas temos também Dostoievski com os seus Irmãos Karamazov...
A atribuição dos nobeis terá também as suas razões políticas e estas, de resto, não são, de todo, desperdiçáveis. Mas Soljenitsin não era um democrata: recordem-se os seus elogios a Pinochet ou a Franco...
Agora temos Moscovo a investir pela Geórgia dentro com o seu espírito imperialista, que por ali se deve continuar a dizer internacionalista. De facto, se a Rússia é Europa, não parece mesmo nada.


sábado, agosto 09, 2008

 

Temas de Braga - 3

Estive ontem no Bom Jesus de Braga e gostei de ver alguns melhoramentos nesta esplêndida estância de lazer, de descanso e de retiro espiritual.
Está o local mais limpo, mais arrumado; e tem o seu edifício central, a Igreja, muito bem iluminado.
Parece que a confraria percebe que as intervenções, ali, têm de ser pontuais, minimalistas, numa estética que se adeqúe ao que já lá está. Quase tudo ali é tão bom que só precisa de ser gerido com bom senso e bom gosto, nas áreas de conservação e restauro criteriosos; também de limpeza permanente.
Pelo que se vê, o parque hoteleiro que ali há assegura a viabilidade do empreendimento.


sexta-feira, agosto 08, 2008

 

Olimpíadas 2008

Saúdo os Jogos Olímpicos que hoje se iniciam na China, com a esperança de que este evento supremo do desporto se não reduza a medalhas e marque vitórias significativas na evolução da espécie humana nos quatro cantos do mundo.
Congratulo-me, ainda, com a adesão dos 127 atletas ao manifesto da Amnistia Internacional pedindo o fim da pena de morte na China bem como as liberdades fundamentais no país, e, devo dizer, torço para que aqueles conquistem medalhas e obtenham a visibilidade necessária para este gesto.
Finalmente desejo que, destas olimpíados orientais, tragamos as melhores especiarias: douradas, prateadas e bronzeadas.


quinta-feira, agosto 07, 2008

 

Eça e Camilo

Gosto de aproveitar as férias para pôr em dia as minhas leituras; e gosto especialmente de reviver as artes e as emoções das letras.
Gosto, assim, de regressar aos escritores antigos. Desta vez, fui à Bibliopólis buscar o Retrato de Ricardina, de Camilo; e a Tragédia da Rua das Flores, de Eça. Estou, deliberadamente, a ler estas duas obras em simultâneo. Porquê? Porque queria, mais uma vez, confrontar os dois estilos destes grandes senhores do uso da nossa língua.
Não sou capaz de dizer: este é melhor que aquele. Camilo consegue ser muito mais emocionante, puxa muito mais o leitor pelo livro adiante; e Eça é muito mais cuidadoso com a escrita. Eça desenha mais pormenorizadamente os ambientes e as situações; Camilo cria muito mais expectativa. No fundo, como já alguém disse, Eça consegue ser mais escritor; mas Camilo é mais romancista.
Vejam lá, então, o deleite com que estou a desfrutar, neste início de férias, estas obras e estes escritores.
Há mais cópias disponíveis na biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.


quarta-feira, agosto 06, 2008

 

observação


tem o meu dia
pardais
à vista da janela

a minha noite chora
coruja vela
luta o vento nos centeios

e eu acordo
ao som das rolas
a rir dos meus receios

fernando castro martins


terça-feira, agosto 05, 2008

 

Angola Transparente

José Eduardo dos Santos disse, ontem, em mensagem dirigida ao seu Povo, que Angola "pode dar um exemplo ao continente africano e ao mundo sobre a forma de como realizar eleições democráticas, livres e transparentes"; isto a propósito do escrutínio que está marcado para 5 de Setembro.
Já Salazar dizia, por aqui, que íamos ter, durante o seu consulado, "eleições tão livres como as da livre Inglaterra"
Em Portugal foi o que se viu.
Em Angola vai ser o que se verá.


segunda-feira, agosto 04, 2008

 

Braga Antiquíssima

Uma qualificada equipa de arqueólogos da Universidade do Minho acaba de descobrir uma importante necrópole nas imediações da Fonte do Ídolo, e têm dúvidas se devem musealizar o achado no local ou se devem transportar tudo para o Museu D. Diogo de Sousa.
Eu sempre considerei que a Fonte do Ídolo está ali muito escondidinha e, a haver, agora, um enquadramento para ela, isso só pode ser visto como uma enorme dádiva a não desprezar.
Estude-se a forma de musealizar ali tudo o que houver e devolva-se, também, o fio de água à Fonte, que todos os bracarenses têm saudades dos girinos e rãs que lá haviam e é da mais elementar evidência que uma fonte sem água é como uma pipa sem vinho.
Não se esqueça que está ali o Palácio do Raio que poderia ser também transformado em museu para o muito que há ainda em Braga para mostrar, e refiro, designadamente, o que houver ligado à história do hospital de S. Marcos - que, em parte, vai mudar de instalações - e à história do Convento dos Remédios.
Haverá vontade política de criar ali uma zona histórico-arqueológica?
Braga ficará ainda mais enobrecida e quem ali investir só terá, também, a ganhar.


domingo, agosto 03, 2008

 

Completa Apatia

Estamos em silly season, a quadra estúpida, i.e., a época (de férias) em que nada se passa.
Diz-se que a economia não pode parar, mexe-se na legislação laboral para que os trabalhadores estejam sempre ao dispor; mas o Estado, as elites, as lideranças, estão incontactáveis; e até o meu jornal Público fica tão fraquinho neste estúpido intervalo que o melhor é fazer também férias de o ler.
Desejo, assim, um bom repouso ao Vasco Pulido Valente, ao António Barreto, ao Bento Domingues, ao José Pacheco Pereira...
Por mim, até Setembro, não de aqui mas da compra do Público.


sábado, agosto 02, 2008

 

E Leves Longe Vamos...



Deixa
deixa crescer
pode ser trigo

e mesmo
se só vês
ervas daninhas

pode ser
dos teus olhos
um engano...

Deixa
deixa mudar
na esperança

que o novo

soa sempre
divergente

e vejamos
como a vida
nos ensina...

Deixa
deixa correr
que não te estorva

que hoje
até o vento
nos ajuda

e vais ver
que leves vamos
muito longe...

fernando castro martins

fotos: 1, 2, com a devida vénia.


sexta-feira, agosto 01, 2008

 

Cães, Gatos e Outros

Devo postar, também, a favor dos animais de companhia que por aí ficam, tão abandonadinhos, em tempos de férias.
Lembro-me, nestas alturas, da ligação estabelecida entre a minha mãe e a sua companhia canina. Ela nunca gostara de cães até que um dia, por motivo de casamento, partiu de sua casa o seu último filho. Este, que era o meu irmão mais novo, deixou à guarda materna um belo cachorro enquanto preparava para este adequadas instalações em sua casa. Regressado depois para levar o cão, a minha mãe disse-lhe: tu foste, fica ele. Não vou ficar sem ninguém.
Foi um incrível amor à primeira vista, e o cão passou a preencher uma boa parte do vazio que ficara na casa.
Lembro-me que, em dia menos bom, o cão mordeu uma vizinha e a minha mãe atirou-se também a esta porque esta lhe estava a repreender o cão.
Um dia a minha mãe morreu e o cão morreu logo de seguida.

Uma outra senhora garantia-me que a sua cadelinha rezava. Um dia provoquei-a:
- A senhora é uma sacrílega. Os cães não rezam.
- Rezam sim - disse-me - pois podem rezar, que até os peixes ouviam os sermões de Santo António.
Ela insistia tão recorrentemente sobre as orações da sua cadelinha que até eu me cheguei a convencer, por uma vez, que daquele focinho beijoqueiro saía uma ladaínha.
Eu, que não tenho condições para cuidar de animais, acabo de reler, pela terceira vez, o livro Cão Como Nós, de Manuel Alegre, um belíssimo texto sobre a espécie.
Aconselho esta leitura para as férias que hoje começam para muitos, e devo dizer: quem decide ter animais, tem de ser responsável.

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