segunda-feira, agosto 31, 2009

 

Com a Devida Vénia - 14


"Ao contrário do que nos serve tantas vezes como desculpa, não é o país que condiciona a qualidade de vida dos cidadãos, mas os cidadãos que se abstêm da responsabilidade de melhorar a qualidade de vida no país. Isto revela-se nos vários campos da sociedade portuguesa".

João Martinho, sociólogo, in Voz do Trabalho, SET/OUT 2009

 

Com a Devida Vénia - 13


"Entre o muito de que nos podemos orgulhar das conquistas do 25 de Abril e do regime democrático que se lhe seguiu, está a criação do Serviço Nacional de Saúde, em 1979, faz agora 30 anos.
(...) Eu própria, que vivi estas melhorias tão significativas, não posso deixar de prestar aqui a minha homenagem aos construtores de tão adequado quadro legislativo, bem como a todos os trabalhadores da saúde - médicos, enfermeiros, auxiliares e administrativos - que tão bem concretizaram nos hospitais e nos centros de saúde tal projecto.
(...) Sabemos que, no terreno, há ainda inúmeras carências, nomeadamente no tempo de espera para consultas e operações; e que nem todos têm ainda um médico de família. mas estes direitos podem e devem ser exigidos.
(...) Assim, uma conquista com esta importância não pode ser perdida ou adulterada. Estão à porta as eleições legislativas e é de todo necessário que estejamos atentos às propostas para este sector vital da democracia: o que vier a mudar deve ser no sentido do reforço do sector público e não no da sua progressiva privatização ao serviço dos mais endinheirados"

Fátima Almeida, in Editorial do Jornal Voz do Trabalho, SET/OUT 2009


terça-feira, agosto 25, 2009

 

Falemos de Política


Eis que se foi o silly season, a época estúpida de férias em que nada acontece, ou se acontece acontece-o estupidamente; e eis-nos na rentrée política, social, económica, laboral, cultural e outras.
Durante este próximo mês falarei mais de política, por razões de calendário, mas também porque, para mim, e insisto mais uma vez, tudo tem dimensão política, tudo é do interesse da nossa cidade comum.
Ontem falava eu com pessoa que muito estimo sobre os conceitos esquerda/direita e a minha interlocutora, de filiação comunista, assegurava que não há quaisquer diferenças entre o Partido Socialista e o Partido Social Democrata. Essa é, de resto, a retórica pré-eleitoral tanto do PCP como do Bloco de Esquerda, uma retórica decerto perdoável em momento de disputa do voto, mas muito desonesta, intelectual e éticamente falando. Basta ver que, ainda o nosso diálogo não tinha terminado e, do canto da sala, já a televisão anunciava o veto do Presidente da República ao diploma sobre as uniões de facto, aprovado por PS, PCP e Bloco com a oposição dos dois partidos à direita do espectro político, PSD e CDS-PP. Aqui está mais um facto a desmentir os discursos inflamadamente garantistas de que PS e PSD são irmãos gémeos do mesmo óvulo. Hoje, mais do que nunca, se vê como a Presidência e os dois partidos à direita formam um trio político em confronto com os restantes três partidos da esquerda. Isto está à vista em muitos aspectos e só não vê quem não quer ou não pode...


domingo, agosto 23, 2009

 

Um Conto de Nós


Está o diário bracarense Correio do Minho a publicar, durante o mês de Agosto, todos os dias, contos literários da autoria dos seus leitores. É uma iniciativa comprovadamente louvável, pela qualidade de inúmeros textos que todos os habitantes de Braga têm podido ler naquelas páginas. Os meus parabéns ao Correio do Minho.
Também eu pude contar, hoje, com a publicação de mais um dos meus modestos textos, com o título "Um Conto de Nós", que poderão ler também, clicando aqui.


quinta-feira, agosto 13, 2009

 

Um Senhor Livro


Conheci-o numa Biblioteca de Jardim.
Sentara-se numa mesinha a meu lado, e eu abordei-o ao acaso, pedindo-lhe conselho de leitura.
Daí a nada, já eu estava mesmo a ver que o livro da minha tarde não seria outro senão ele: começou por abrir os braços e eu via mesmo que ele era um livro que se abria.
A seguir falou, aconselhando-me uma obra disponível, mas, de imediato, ele mesmo era essa obra ao vivo: o seu tom de voz era agora de arte; a expressão do seu corpo colocou-o num palco que se descerrava diante de mim; o seu texto era de uma elegância literária digna dos filósofos antigos.
- Sabe? Eu gosto muito de ler. – Disse depois.
E era assim que intercalava, de vez em quando, a sua prédica.
- Tudo o que sei é dos livros que leio. – Continuou.
E eu fiquei ali a tarde toda a ver e a ouvir o Livro que a si se lia para mim.
Daquelas barbas de prata pareciam sair tratados sobre metais preciosos, pois eram de filigrana os caracóis rebeldes que lhe pendiam do queixo; e de ouro puro eram as palavras de Livro quando reiterava Diógenes discursando ao sol diante de ninguém.
Só muito mais tarde me dera eu conta de que não escolhera texto nenhum na amistosa Biblioteca de Jardim; e que fora o Livro que me escolhera: um livro com lê grande, uma espécie de livro-enciclopédia, um livro-biblioteca, uma espécie de Bíblia.
E lendo eu também em Livro as linhas dos seus anos que estavam bem registadas na sua fronte, verifiquei que a sua sabedoria acumulada provinha igualmente das muitas páginas da sua vida.
Livro era, portanto, um ser precioso. Quando falava os seus olhos abriam-se aos horizontes longínquos como faróis.
Ali, entre a literatura da Biblioteca da Avenida Central, Livro era uma obra com pulsação, um audiovisual e um professor. Falava um pouco de tudo. Era um clínico de medicina geral.
Enquanto o ouvia, notei que o seu corpo era feito de diversos materiais e os seus movimentos lembravam o manuseio de ferramentas muito poderosas e também de outras mais delicadas e precisas.
A dado momento do meu espanto, não resisti a perguntar a Livro quem ele era e de onde vinha.
- A minha sina actual – disse –, resume-se a estar desempregado. É por isso que passo as minhas tardes na biblioteca. É um sítio bom para se estar.
- Mas o Livro, deixe-me tratá-lo assim – disse eu –, teria muita utilidade a trabalhar, não acha?
Livro parecia-me agora perplexo, incomodado com a pergunta, julgo mesmo que o feri com a espada das minhas palavras.
Por fim Livro reagiu, compassada e inexoravelmente:
- Saiba que quando perdi o trabalho fiquei às portas da morte. Cheguei a pensar que eu seria inútil; um peso morto. E ainda hoje, embora mais conformado, acho que morrerei desta doença.

(Também este meu texto está no Correio do Minho)


domingo, agosto 09, 2009

 

Hoje estou no Correio do Minho


O jornal bracarense Correio do Minho tem vindo a publicar contos literários da autoria dos seus leitores; e hoje tive a honra de ser brindado com a publicação de um conto meu.
Registo aqui os meus agradecimentos a este jornal da minha amada cidade. Para ler, clicar aqui


quinta-feira, agosto 06, 2009

 

Perseverar

é preciso
ver a vida
noutras cores


dar notícia
que da terra
nascem flores


é preciso
mais sorriso
meus senhores.

fernando
castro martins



(Foto: com a devida vénia).


sábado, agosto 01, 2009

 

Pessoas Imperfeitas


"Pessoas imperfeitas, incluindo eu" - disse o presidente dos EUA, Barack Obama, de um encontro tripartido informal que promoveu nos jardins da Casa Branca, a que a imprensa chamou, também informalmente, de "cimeira da cerveja", por ali ter sido servida esta bebida para despertar um diálogo necessário.
A reunião destinou-se a apaziguar ânimos entre partes em conflito mediático, depois de Obama ter declarado, com incrível infelicidade, que um sargento da polícia tinha "agido estupidamente" ao deter um cidadão à porta da sua própria casa por o ter confundido com um assaltante.
Aquele que muitos julgam o presidente do mundo disse, em tradução livre - "eu sou um homem imperfeito" -, e esta verdade de La Palisse, dita assim e por quem, assegura que "perfeitos" são só os ditadores, que assim se fazem publicitar sem contraditório.
Também muitos portugueses estarão, já a esta hora, à procura do homem perfeito ou da mulher perfeita para escolher nas eleições de 27 de Setembro e 11 de Outubro. Como não vão encontrar esse messias, muitos terão tendência a abster-se, a votar branco ou nulo. Eu não vou por aí: votarei em cada eleição próxima num homem imperfeito, de quem espero, ainda assim, que dê o seu melhor. A política é também a arte do possível e, em democracia, somos todos políticos. Não contem comigo em casa, em nulo ou em branco!

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