domingo, dezembro 31, 2006

 

PODER DE ENCAIXE

Fiz hoje uma observação de que resultou o seguinte texto:

Um esticado de baixa estatura
Mais que anão de senso em pose altiva
Julgando-se escultura criativa
Fez-se passar por gente de cultura...

Não viu, contudo, tudo nessa altura
Nem nessa esticadura aflitiva
Que o tinham naquela comitiva
Por carecerem de cavalgadura.

E a nossa criatura já montada
Mas decidida a encontrar alívio
Na sua inteligência desprezada

Pôs-se a quatro, em certo equilíbrio
Virando estrela bipolarizada
A meias burro e animal anfíbio

fernando martins


quinta-feira, dezembro 21, 2006

 

Sageza

Sou um autodidacta com uns curtos oito anos de escola de escola e uns prolixos cinquenta anos de escola de vida.
Hoje um júri vai, se não chover, outorgar-me o diploma de equivalência ao nono ano de escolaridade através do Centro de Reconhecimento Validação e Certificação de Competências.
Esta bela iniciativa de valorizar o saber de experiência feito, merece também um dos meus sonetos:

Certificar esta cursada vida
É ideia de mestres, meus senhores
Pois todos somos, d'algum modo, actores
Das letras e da luta e da lida.

Mais! Todos e ninguém somos doutores
À parte da porção reconhecida
No diploma da pestana perdida
Ou na sage cultura dos valores.

Todos autores, senhores, alguém
E sentinelas da cidadania
E ousados sonhamos o além...

Que ao longe nos leva a utopia
Livres do ter, sermos do ser e do bem
Demandando a magna mais valia.


fernando martins


sexta-feira, dezembro 01, 2006

 

Conto Sucinto

Um vadio resolveu instalar-se, por uns tempos, numa terra distante onde os habitantes tinham, entre si, o antigo princípio orientador de "pagar sempre na mesma moeda" qualquer transacção em matéria de contas morais e físicas. Era uma espécie de lei abreviada, tácita, para a regulação da honra e da justiça.
E a vida seguia ordenadamente.
O vadio, que não vinha ali para pedir esmola, mas, ousadamente, para viver a sua vida de vadio, começou, com espanto geral, a relacionar-se com a população acertando sempre as suas contas, grandes ou pequenas, numa moeda feita de um metal um pouco mais precioso.
Este forâneo enigmático esteve naquela aldeia pouco tempo mas, quando partiu, já os terranteses transaccionavam só com a moeda brilhante que diziam, alegremente, ser do banco emissor do vadio que lhes deixou, também, uma indizível sensação de saudade.

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