domingo, janeiro 13, 2008

 

O Hino do Meu Filho

Saber que a Espanha, multicultural, plurilingue e tetranacional não se entendeu, ainda, acerca de uma letra unificadora para o seu Hino, é, para mim, uma antiga perplexidade que agora se atenua com o facto (surrealista?) de o meu filho ter proposto um lindo poema para aquele empreendimento.
A sua proposta foi enviada ao Comité Olímpico de Espanha e à Sociedade Geral de Autores daquele país, que resolveram, em conjunto, promover um concurso público e popular visando aquele objectivo, tendo recebido sete mil textos e dando por vencedor o poema enviado por Paulino Cubero.
O meu filho esteve em Valência, a fazer o seu ano Erasmus, em sociologia, e iniciou-se, assim, na acção da cultura e na cultura da Polis, noutra pátria.
Não ter sido o prémio arrebatado pelo meu João Martinho não me desgosta em demasia - não esqueço que foram sete mil os concorrentes - e comove-me até à falta de palavras a sua participação. Porque sou pai; e porque tenho consciência de que ele, poeta e sociólogo, possui a mais alta qualificação e sensibilidade para voos desta altitude.


quinta-feira, janeiro 10, 2008

 

A Família é...

A Mais Determinante Escola de Valores

Na procura de uma voz autorizada acerca dos processos educativos no seio da família, acabei por me deparar com as oportuníssimas lições do Dr Daniel Sampaio, conhecido psiquiatra, na sua obra “Lavrar o Mar”.

Aquele investigador, arrasa, no referido livro, o velho argumento de que certos comportamentos dos jovens se devem às (más) companhias, à televisão, à Internet… afirmando, preto no branco, que “nas questões essenciais, relacionadas com os valores e os juízos morais, é quase sempre a educação dada pelos pais que prevalece”.

Assim, e concordando em absoluto com esta afirmação, acrescento que não me parece adequado que os pais se desresponsabilizem dos caminhos que seguem os seus filhos, ainda que aqueles se julguem impotentes diante de poderosas influências de terceiros.

E partindo desta premissa, posso, agora, perguntar: então como se comportam os pais e as famílias e o que está ao seu alcance fazer? Aqui, aquele eminente autor, é optimista e refere que “nunca houve tanto interesse pelos filhos, nem nunca existiu, outrora, tão grande preocupação em acertar”; acrescentando: “os pais actuais estão atentos e, na sua maioria, procuram fazer o melhor possível”.

Não estamos, portanto, em face de uma realidade tão sombria como por vezes afirmamos; compete-nos, então, sinalizar os problemas e insuficiências ainda existentes e seguir em frente, trilhando caminhos de resolução e de aperfeiçoamento.

Todavia, o escritor, pede-nos que meditemos na atitude de pais e de filhos a partir das pequenas realidades do dia-a-dia: “como se cruzam na intimidade da casa, como se levantam de manhã e partem para a escola e trabalho, como decorre o jantar de família, como se organiza o fim-de-semana de todos”, para concluir que o importante é a comunicação entre as partes, dado que há pais que “perderam há muito a possibilidade de coordenar o processo de decisão” e filhos que “não se conseguem fazer ouvir sem elevar a voz”.

Ainda assim, Daniel Sampaio, afirma que “uma criança (e jovem) precisa de questionar, discutir e opor-se para crescer. Um adulto não pode aceitar passivamente tudo o que lhe exigem no emprego. Um velho tem menos margem de manobra mas tudo deverá fazer para que não decidam a sua própria vida sem que seja ouvido”.

Estamos, portanto, diante de questões de liberdade, responsabilidade, participação, comunicação. Não é fácil a gestão destas realidades e aspirações mas estamos convictos que os pais e os filhos, as famílias, podem aprender sempre, se o quiserem. E podem, também, procurar estabelecer os melhores modelos de relação, tecnicamente chamados de “estilos parentais” São eles: o dos pais autoritários; o dos pais democráticos; o dos pais permissivos; e o dos pais rejeitantes-negligentes.

O texto a que nos estamos a referir parece encontrar melhor equilíbrio no estilo pais democráticos, que “são caracterizados por uma acentuada compreensividade, mas sem que se ponha em causa a exigência”. Aqui, “os progenitores encorajam desde sempre a autonomia dos filhos, ouvem as suas opiniões, mas não hesitam no caminho a seguir e não descuram o cumprimento das regras por parte dos mais novos. A negociação e o compromisso são possíveis, mas os limites existem e os pais deixam bem claro até onde os filhos podem ir”.

Não é fácil, portanto, a educação nos dias de hoje, mais cómodo seria o estilo “autoritário”, do quero, posso e mando, de antigamente, onde os “castigos eram frequentes e as recompensas não abundavam”.

Mas estamos, felizmente, numa nova era, na era dos direitos de todos, também dos das mulheres e mães, podendo estas exercer e realizar-se numa profissão, contando, progressivamente, com a colaboração de marido e filhos, na vida familiar e doméstica.

Não desconhecemos, porém, que há hoje diversas realidades familiares, pelo que, cada qual deve procurar as respostas aos seus problemas e inquietações dentro de uma reflexão acerca de princípios e de valores.

É verdade que escasseiam meios culturais e económicos a muitas famílias, particularmente às famílias operárias que dispõem, apenas, de baixa escolaridade e de salários mínimos; quando não sofrem da ignomínia da falta de trabalho/emprego; mas, ainda assim, ousamos afirmar que a desculpa, a desesperança e a apatia não são nunca aceitáveis. Porque há atitudes que estão ao alcance de todos os pais: a visita frequente à escola, para interagir na educação formal dos filhos; o investimento na entreajuda doméstica; o incremento do consumo responsável; o diálogo aberto sobre os malefícios do tabaco, das drogas, do álcool; e ainda acerca das inquietações sentidas pelas relações de afectos dos adolescentes e jovens.

Por fim, devemos sublinhar que, diante dos filhos menores, é obrigação dos pais definir limites, saber dizer não com a mesma naturalidade com que dizem sim; dentro do quadro de relações que temos vindo a referir.

Quanto às dificuldades, estas “não nos podem fazer desistir, pois a investigação demonstra, com clareza, que os jovens que melhor evoluem são aqueles que vivenciaram uma boa relação com os seus familiares” – conclui Daniel Sampaio.

(Publiquei este artigo no jornal "Voz do Trabalho" Nov/Dez 2007)

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