sábado, novembro 25, 2006

 

Miguel, Sofhia e Francisco

Miguel Sousa Tavares foi acusado por um bloguista, aqui ao lado, de ter plagiado dois ou três parágrafos, de outro livro, na sua obra "Equador". Uma opinião absurda.
Eu fui um leitor deste livro na sua segunda edição (primeiras trinta mil cópias) em 2003, cujo exemplar me foi enviado pelo autor em retribuição dos meus protestos de grande admiração por si e pelos seus pais - a escritora Sofhia de Mello Breyner Andresen e Francisco Sousa Tavares - em carta autógrafa que lhe enviei, quando senti obrigação de o fazer em determinado propósito.
Guardo esta obra com muita estima e tenho até uma certa vaidade na dedicatória que a mesma ostenta:

" Para o leitor Fernando Castro Martins , envia com muito prazer e gratidão, o autor, Miguel Sousa Tavares.
12 de Nov. 2003"

Eu sou fã de Sofhia, de Francisco e de Miguel, pelo que não há nada a fazer.
A propósito, dou a conhecer a breve nota que escrevi, quando li este excelente livro, e que mantenho guardada entre as páginas deste:
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"Um retrato histórico-literário de uma realidade de há cem anos pode ser um estimulante motivo de reflexão, mais ainda quando aquele ambiente está ainda muito próximo da escravatura e se situa num dos recantos do Portugal dessa época, S. Tomé e Príncipe.
A personagem principal do livro é Luís Bernardo, governador do território nomeado pelo rei D. Carlos para, no desempenho da sua missão, tentar esconder do cônsul de Inglaterra naquelas ilhas a alegada deslealdade de mantermos ali um trabalho quase sem custos para os donos das roças do café e do cacau, em prejuízo dos ingleses, nossos concorrentes directos; isto cerca de trinta anos depois de, em Portugal, ter sido abolida a escravatura.
Este governador, que é pessoa culta e sensível, acaba por defender os negros da brutalidade dos senhores das terras e toma até partido por um tal Gabriel que, em dada altura, lidera uma revolta de escravos que vitima mortalmente cinco pessoas, entre elas um capataz da roça.
Pelo livro ficamos a saber mais história de Portugal e do seu regime colonial; do que era a faustosa vida dos ricos em contraste com a absoluta miséria e discriminação dos pobres a quem tudo faltava.
Aqui a realidade esclavagista não é apresentada a partir de uma qualquer verosímil visão dos escravos mas sempre na base da opinião de quem está lá em cima, no poder, sejam eles absolutamente atrozes ou claramente progressistas.
Também encontramos no livro abundantes episódios de sensualidade e de boa mesa, o que o torna atractivo e descontraído, embora, também nestes capítulos, só as classes sociais ricas sejam protagonistas.
Esta obra está escrita numa linguagem muito acessível, por vezes irónica e sempre magistral; e apresenta um corpo de letra grande; pelo que proporciona uma leitura de enorme prazer e encanto.

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