sábado, abril 07, 2007

 

As Uvas da Páscoa

Das memórias da casa dos meus pais está aqui muito dentro aquela glicínia que dava uvas pela Páscoa, uvas perfumadíssimas, ornando sugestivamente o corrimão da escadaria. Era por aqui que subia o Compasso, sempre presidido pelo abade, vestido solenemente de branco e de rendas. E por aqui entrava também a senhora que recolhia os ovos - com a sua redonda e enorme cesta, igualmente debruada de branco -, ovos que serviriam para o sustento do pároco, enquanto propriamente ditos, ou quando revertidos a dinheiro em ulterior venda.
As restantes figuras do Compasso eram as que ainda hoje o são - campainha, caldeira, cruz - mas a senhora dos ovos, tão característica no seu avental e saia rodada, seguindo também, compassadamente mas separada e posterior ao grupo do anúncio da Ressurreição, é dona e senhora de grande parte da minha nostalgia.
Aqui está um pouco do meu recordável encanto das Páscoas dos meus verdes anos, aquelas solenidades ao domicílio, enaltecidas com a imbatível transcendência da trepadeira de flores que são cachos de uvas.

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