quinta-feira, dezembro 06, 2007

 

Tons de Morte

Batem as oito horas sobre este colorido em tons de morte, porque é Outono; e as árvores, endoidecidas, despem-se às ordens do frio e estendem-me um tapete, julgando que sou rei.
Eu caminho por ali, rua dos Barbosas, por onde caminha também o rio Este.
O renque das árvores, nossas amigas, separa a rua do rio, habitando o centro do passeio e um par de namorados separa-se a cada onze passos, como quem brinca, contornando as espécies arbóreas alternadas, ora um lódão, ora um carvalho-americano, que estão ali, caladas, imponentes e simetricamente como se os passeios fossem feitos para elas, que não passeiam, em prejuízo dos passeantes.
Mas são bem comportadas estas senhoras que mudam de penteado duas vezes ao ano e ostentam um urbaníssimo porte, convivendo numa conjugalidade perfeita com aquele harmonioso empedrado de calcário e basalto e com os colares de granito que as circundam na base. Também as suas raízes, mesmo escondidas, usam de toda a civilidade aprumada e não beliscam nem um cubinho daquele gracioso mosaico geológico.
Porém, o que hoje mais me comove é aquela tela vegetal que piso ainda fresca, que é manhã de domingo e ninguém mais se levantou ainda.
Porque as folhas do carvalho-americano morrem em castanhos vários e as do lódão em diversos amarelos, está ali, também, em tons alternantes, um tapete folhoso digno de uma qualquer procissão da Imaculada que se celebra neste oito de Dezembro.

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