domingo, dezembro 16, 2007

 

Um Estúpido Conto de Natal

É meia-noite e Josué procura agora aconchegar-se a Marisa porque sente muito frio naquele piso-cama de cimento, de um recanto coberto da central de camionagem de Braga, que desde há muito os serve como hospedaria casual.
Naqueles mesmíssimos e sebosos trapos, que fazem de almofadas e de cobertores, dormem, também, esporádica e alternadamente, outros crónicos da pinga e das drogas e das suas consequências: a sida, as hepatites, a tuberculose.
Hoje ficaram ali somente o Josué e a Marisa, que não têm qualquer laço de conjugalidade, unidos pela mútua apatia. Ela tem sida, que se sabe; e ele tem uma garrafa, que se vê.
Marisa não recusa a proximidade de Josué, e segreda-lhe:
- Olha, tenho aqui dentro um filho, só meu - Deus bem sabe como foi - e gostava que ele nascesse nesta noite de Natal. Se vier perfeitinho, tu podias ser o pai. Aceitas?

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