domingo, abril 20, 2008

 

Cónego Melo


Morreu ontem Monsenhor Cónego Melo. Homem controverso, ele era um ícone de uma certa ideia de Igreja vanguardista e militante que o Concílio Vaticano II deixara para trás.
Foi, contudo, um homem marcantíssimo, a quem se fica a dever um rigoroso registo histórico e jamais a estátua de sete metros que alguns lhe queriam tributar em vida. Pronunciar um sentido descanse em paz diante de quem tanto agiu é a mais cristã das atitudes.

Para que não digam que eu não disse, registo aqui parte do texto com que participei no debate da estátua, dado a lume no Diário do Minho de 31 de Outubro de 2002, página 3. O título, escolhido pelo Exmo Director, Padre João Aguiar a meu pedido, era:
Humilde Sugestão.
...
"Quando os homens se emocionam são capazes de elevar outros homens até à altura das copas das árvores ou de rebaixá-los até às profundezas das raízes daquelas. É a vida. E no entanto, somos todos irmãos.(...)
Todos nós seremos susceptíveis de aceitar elogios desmesurados, presentes generosos ou envenenados; e até os mais conscientes se podem atordoar diante de um discurso inflamado ou de um banquete bem regado.
Geralmente, as homenagens públicas são tão democráticas que revertem a favor de todos: do homenageado e dos outros que se mostram na homenagem. Nem todos os presentes lá estão pelos mais confessáveis motivos e alguns fazem mesmo uma criteriosa gestão da sua presença, procurando contabilizar notoriedade, prestígio ou poder, a seu favor. Pode ser que uma das homenagens posteriores seja em prol de um homenageador de hoje e altamente patrocinada pelo homenageado de agora.
Acontece que certos eventos desta natureza são preparados de tal forma que nem os mais elevados poderes da sociedade podem escapar a dar o seu aval e aprovação, mesmo se detestam a iniciativa. Por isso se encontram sempre nestes acontecimentos as autoridades políticas, religiosas, académicas, militares e todas as outras que possuam sede na área da festa...
Às vezes, fruto da emoção, os homens são levados a estatuar outros homens incomuns numa volumetria incomensurável, decerto para que protejam, da sua alta posição, a restante estatuária da cidade, constituída maioritariamente por modestas imagens da Virgem Maria, de santos e de Papas; ou, noutro registo, para advertir outros homens de que não se atrevam a reproduzir-se na pedra ou no bronze por se encontrarem, à partida, em desvantagem.
Homenagens assim não serão pouco evangélicas, um pouco idolátricas e pouco reflectidas?
(...)
Fernando Martins"

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