sexta-feira, dezembro 12, 2008

 

O Natal da Minha Biblioteca - 13


"- Ora, a mãezinha bem sabe que as mulas são amaldiçoadas... as mulas diz que são amaldiçoadas.
- Isso são histórias - aclarou o pai.
- Não são tal! - insistiu Eugénia com vigor. - No Presépio a vaca chegava palhinhas ao Menino, para o agasalhar, e vai a mula comia-as. Por isso a Senhora a amaldiçoou.
(...) - E também amaldiçoou a perdiz - continuou muito sério o rapaz. - Só a pena...
- Conta lá... - disse-lhe a mãe, momentaneamente distraída.
- Foi assim...Quando nossa Senhora fugiu, um bando de perdizes, levantando-se-lhe na frente, assustadas, espantou-lhe a burrinha e deu sinal ao inimigo. Vai a Senhora, exclamou: "Malditas sejais!". São José respondeu: "Não, coitadas! a carne, não... Só as penas.

(...) - Comes? - perguntou o pai.
- Ai, não! Trago uma fome de pedras... vou já começar aqui por estes ovos verdes.
- Mas que conversa era essa então com que estavam de maldições?... Eu ainda ouvi...
- Falava-se de quando foi da fuga de nossa Senhora com S. José e o Menino. Diz-se que ela amaldiçoara então a mulinha do presépio, os tremoços, as perdizes...
- Ainda me lembro!
- Sabes mais do que nós...
- Pois então! contava-me aquela nossa criadita velha, a Emília... Ora espera, como era?... Ah! Quando Nossa Senhora ia a caminho, os bisbilhoteiros dos noitibós iam na frente, a gritar. "Ela aqui vai! Ela aqui vai!" E atrás as cotovias, apagando as pegadas da burra com as patitas, diziam: "Mentira! Mentira!" Por isso Nossa Senhora abençoou estas e amaldiçoou aqueles.
- É verdade, mamã? - perguntou com interesse o Josezito.
- O papá nunca mente".

(De "A Consoada", de Abel Acácio de Almeida Botelho, 1855 - 1917)

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