sábado, dezembro 13, 2008

 

O Natal da Minha Biblioteca - 14


"Era uma vez certa rapariga selvagem que guardava ovelhas e encantava pássaros.
O pai, pastor em Belém, levara-a consigo ao Presépio no dia do primeiro Natal - era ela ainda pequenina, poucochinho maior do que o Menino Jesus.
O Menino sorrira-lhe. Nunca mais esqueceu aquele sorriso e, desde então, ano após ano, acorre ao estábulo logo que o Anjo do Céu principia a entoar o "Glória", para oferecer a sua prenda de anos. Traz sempre o mesmo: um pássaro. Pousa-o, de asas frementes, à beira do Presépio e o pássaro canta para o Menino.
Da primeira vez arranjara um pintassilgo cuja voz, embora fraca, se esforçara o mais possível "cui... cui", inclinando levemente para a banda a cabecita salpicada de encarnado. Depois apareceram, cada um por sua vez, - à medida que a rapariga ia crescendo - o tentilhão a prometer cerejas ao Menino Jesus... a toutinegra palradeira a falar-lhe, infindavelmente do verão, das flores e do mais que se segue... o melharuco a furar, insistente, um buraquinho no azul do céu a fim de tentar fazer dele alguma porta... o melro, esse abriu o bico e deixou rolar, do seu papo negro, grossas pérolas redondas de azul... e o pintarroxo... e o verdelhão... e a carriça... e o pisco... e a alvéola... e outros ainda, de que talvez os anjos se lembrem mas eu não".

(De "Natal do Pássaro Morto", in "Natal de Cada Um", de Marie Noël, [pseudónimo?])

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