sábado, dezembro 06, 2008

 

O Natal da Minha Biblioteca - 7


"Ao descer a pequena encosta que leva à aldeia, pairava um silêncio profundo, mas ouviu de súbito o repique dos sinos e o eco prolongado repetiu-se pelas quebradas da serra, como aguda e estridente guizalheira que se fosse reflectindo de monte em monte. Mais longe, tocou o campanário de outra igreja, e de outra ainda mais além, até que por toda a serra ressoou uma melodia fina e brincada de caixa de música. Em cada aldeia chamavam os fieis à adoração da Natividade, que na grande noite festiva se celebrava na missa do Galo.

Na véspera caíra um pesado nevão. A serra, os campos em redor, as casas e as árvores, tudo ficara sepulto no espesso manto branco, que enchia a noite de reflexos - radiação espectral, fantasmagórica, alvíssima e encantada na sua claridade irreal de cenário de mágica.
(...) Na noite de consoada, abancava toda a família em volta da mesa, com a grande toalha de linho dos dias de festa e o lume a arder nas velhas pedras do lar. O candeeiro de latão reluzia de areado. À cabeceira sentara-se o avô, velho bonito, de barba e cabelos brancos, o rosto rosado e os lábios ainda frescos. A mãe trouxera a tradicional pratada de bacalhau cozido com batatas e couves, cebolas e rodelas de ovo, que vinha como sempre apetitosa e fumegante. Uma felicidade contida unia-os em volta daquela mesa apertando-lhes os corações numa sensação de indizível ventura"

(De "Pedro - Romance dum Vagabundo", de Manuel Mendes, 1906-1969)

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