segunda-feira, janeiro 19, 2009

 

Com a Devida Vénia - 6


Habituei-me a respeitar a escritora Alice Vieira. Leio-a desde há muito e considero-a uma pessoa progressista que presta, pelo seu trabalho e testemunho, um inestimável serviço de cidadania. Sei que ela visita escolas desde há trinta anos, dando conferências sobre os seus livros e acho, de resto, que escreve com rara sensibilidade e magistral captação do sentir de crianças e jovens. É por isso que não me é indiferente o que ela diz na entrevista que deu ao jornal Público de hoje, a propósito da greve dos professores, que também hoje tem lugar.
Assim:

Público
: Esta é a segunda greve de professores este ano lectivo. Em que é que estas acções influenciam a qualidade da escola pública?

Alice Vieira: (...) Quando 140 mil professores Vêm para a rua, é óbvio que devem ter razão, mas não a têm toda. A ideia que tenho, desde o princípio, é que a ministra tem razão em querer que os professores sejam avaliados (...)
A ideia que passa é que os professores não querem ser avaliados e é fácil veicular isso porque os professores são um grupo complicado (...)
As leis são iguais para todos, mas há escolas onde dá gosto ver o trabalho que os professores fazem e a ministra é a mesma! (...)
Converso com professores e é um susto, desde a língua portuguesa, tratada de uma maneira desgraçada, até ao desconhecimento dos autores. (...) Muitos professores têm uma formação muito, muito, muito deficiente. Não só falam mal como se queixam dos miúdos.
(...) Aconteceu uma coisa terrível na educação: tudo tem de ser lúdico, nada pode dar trabalho. Não pode ser. (...)
Quando vou às escolas, esforço-me por transmitir aos alunos que as coisas dão trabalho, mas os próprios professores passam a mensagem de não querer ter trabalho. Quando vou ao estrangeiro, vejo os professores e penso: "Se fosse em Portugal não era assim". Fazem o que for preciso. Cá dizem que não é da sua competência. A educação é daquelas matérias em que, se calhar, são precisas medidas impopulares. (...)
O professor não tem autoridade nenhuma. A solução passa por mais interesse e mais disciplina. O professor tem de sentir gosto pelo que faz e transmiti-lo. (...)

Comentários: Enviar um comentário



Página Inicial

This page is powered by Blogger. Isn't yours?