domingo, outubro 25, 2009

 

Saramago e... Ser amargo.


Não acho má a presente polémica ao redor do livro Caim, de Saramago.
Eu sou crente, apurei o meu humanismo a partir da fé e da militância enquanto católico, está visto que não sou tão pessimista quanto o escritor Nobel, acerca da Bíblia e da acção da Igreja.
Mas acho que Deus também pode falar-me até através das palavras de José Saramago, porque o Espírito Santo sopra onde quer e como quer, como costumamos dizer, em comunidade.
Deste autor, li, todo, O Evangelho Segundo Jesus Cristo e, também, de forma completa, A Viagem do Elefante. Não cheguei ao fim do Memorial nem da Jangada. Nos outros ainda não arranquei. Vou ler Caim? Decerto. Não acho o autor globalmente mau, sendo que o considero pontualmente genial e às vezes uma seca. Vale a pena, assim, tê-lo como um dos nossos homens das letras, bem como as suas picardias no nosso comodismo.
Mas também gosto da Bíblia enquanto biblioteca de boa literatura. Há pouco tive a rara oportunidade de ouvir dizer as cartas de S. Paulo por actores profissionais, entre os quais havia ateus e agnósticos, aqui em Braga, e vou-vos dizer: são obras magistrais, que eu, apesar de as possuir há décadas e as ouvir frequentemente nas missas, ainda não as tinha descoberto completamente.
Assim, hoje, apetece-me aconselhar a leitura completa de duas bibliotecas: A Bíblia Sagrada e a Bíblia Saramaguiana. Coloco esta segunda também com maiúsculas para evitar quaisquer discriminações.
Mas há outros livros que vêm a propósito. Um deles é Valores, de Francesco Alberoni, publicado em Portugal pela Bertrand Editora. A certo passo, diz assim:

"... Nós somos os filhos de quem se demonstrou capaz de sobreviver. Quem se comportou de outra forma não pode falar. Os seus descendentes não chegaram a nascer. Os pobres de espírito, os mansos, os bons, os puros de coração, aqueles que não defendem de unhas e dentes o seu território e a sua prole, combatendo o inimigo, que não disseminam os próprios genes a todo o custo, esses estão em desvantagem na luta pela vida e não deixarão descendentes.
Apenas sobrevivem os filhos de Caim".

Enfim: há muitas outras abordagens da figura de Caim, e também este tratado de sociologia precisou de ir beber à fonte bíblica.
Vêem como a Bíblia é, também, um incomensurável depósito de cultura e tem uma utilidade que chega a transcender a sua própria transcendência?
Obrigado José Saramago e demais polemistas.

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