sábado, agosto 14, 2010

 

Casa da Amizade

(- Este o Artigo que publiquei no Jornal Voz do Trabalho JUL/AGO 2010)

"Naquele dia de chuva, uma pequena multidão reunira-se no centro da freguesia, com o firme propósito de fazer raiar o seu quinhão de sol.

Este sol era, nem mais, o sol da amizade, pois o evento consistiu na inauguração de uma casa que fora doada por uma família da terra a uma instituição de solidariedade social, com o fim de fazer dela uma habitação comunitária de jovens desprovidos da sua própria família.

Este facto marcante, que incluiu a cerimónia da entrega das chaves da casa, aconteceu na freguesia de Bairro, concelho de Vila Nova de Famalicão, em 20 de Março passado. Estavam presentes a família doadora; os dirigentes do Centro Social e Cultural de S. Pedro de Bairro, que ficou proprietário de prédio; o presidente da Junta de Freguesia; o pároco; o vice-presidente da Câmara Municipal; e muito povo.

Fernanda Dias, militante do Movimento de Trabalhadores Cristãos e sindicalista desde há décadas, representava ali a família de irmãos que herdara o património e se despedia dele de um modo incrivelmente festivo. Diz a Fernanda: “quando precisei de encontrar uma solução para as minhas irmãs solteiras, uma de oitenta e seis e outra de oitenta anos, fui falar com o responsável do Centro Social, Sr. Joaquim do Vale. Tivemos uma longa conversa, até porque somos filhos da mesma terra, e foi nessa altura que me foi colocado um grande objectivo do Centro, que era o de encontrar uma casa para acolher jovens com mais de 18 anos de idade, anteriormente enviados pelo tribunal ou segurança social, e que, ao completarem a maioridade teriam de deixar a instituição e ficarem entregues a si mesmos”.

Essa atitude que entendi muito digna, a de encontrar uma casa para estes jovens” – continua a dizer a Fernanda – “foi que nos fez surgir a ideia de doar a nossa casa de família à instituição. Casa pequena, é certo, mas que acolheu uma família de treze pessoas, pois éramos onze irmãos. Falámos em família e os meus irmãos, ainda que com alguma tristeza estampada no rosto, disseram-me: faz o que achares melhor! Então pensei, pensei, e decidi doar a nossa casa de família, uma casa embora pobre como a família operária que lá viveu”.

Custou-me muito tomar a decisão – completa a Fernanda Dias -, foi como arrancar um pouco de nós mesmos. Mas sei que partilhar é somente o que nos custa e não o que nos sobra, pois o contrário não é partilha

O “Voz do Trabalho” acrescenta que esta dinâmica freguesia de Bairro tem uma grande tradição associativa e de solidariedade, pois além do Cento Social e Cultural de que falamos, conta também com a Fundação Castro Alves, com as suas valências de escola de cerâmica e museu destes utensílios tradicionais, escola de música, entre outras; bem como uma forte tradição jocista, pois da JOC foi também Fernanda Dias e o próprio líder do Centro, durante os últimos vinte e cinco anos, o Sr. Joaquim do Vale.

E bem precisa tem sido esta atitude associativa e solidária, dado que esta freguesia do Vale do Ave tem sido, também ela, muito flagelada pelas falências da indústria têxtil, pela precariedade laboral, por salários baixos e muito desalento.

Mas devemos dizer que Bairro está de parabéns por esta iniciativa social e por contar, entre os seus conterrâneos, com esta família generosa.

Se fordes a Bairro, encontrareis facilmente esta moradia de jovens, já que ela tem afixada uma comovente e pura mensagem que diz: “Casa da Amizade”.

Fernando Castro Martins"


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