terça-feira, fevereiro 24, 2009

 

Temas de Braga - 22


Atordoado pelo nu realista de mulher que decorava um frontispício exposto na feira do livro deste fim de semana carnavalesco em Braga, um cavalheiro leu, nessa mesma capa, a palavra pornografia onde estava escrito pornocracia e correu a chamar a pornolicia. Aqui estão os três pês de Braga no seu melhor. O pudico venceu; o livro recolheu; e o público, vencido, quer agora o fruto proibido.
Golpe publicitário ou parvoíce, aqui fica o pê do meu protesto.

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Com a Devida Vénia - 7


Juan José Millás nunca quis ser escritor. Queria ler (para sempre) porque foi com a leitura que descobriu "um outro mundo". Descobriu, através da enciclopédia da casa dos seus pais, (...) "que existia uma larva que parecia um excremento de um pássaro. Ficava com essa aparência para evitar ser comida pelos pássaros. E depois de ler aquilo, ficava sempre a pensar se valia a pena viver assim, pagando esse preço, o preço de passar por uma merda".

Ípsilon, Público, 20/Fev./2009


domingo, fevereiro 22, 2009

 

Flache da Semana - 7


Mais de 54% dos padres da Polónia preferia estar casado e um terço confessa, em sondagem publicada esta semana no jornal daquele país, o Dziennik, que já traiu o voto do celibato, i.e., não resistiu, como qualquer mortal, aos instintos sexuais. A notícia chegou-me pelo insuspeito Diário do Minho, que reitera as conclusões do sociólogo polaco Josef Baniak, que afirma que "os resultados mostraram um problema sério para a Igreja Católica, já que muitos sacerdotes estariam dispostos a abandonar o seu magistério pelo amor e para formar uma família".
O sociólogo baseou o seu estudo em mais de 800 entrevistas para chegar a estas conclusões, e eu baseio-me apenas na minha reflexão para intuir que, também por aqui, a realidade não há-de ser muito diferente daquela. Por isso manifesto, deste modo, o meu escândalo, não tanto pela situação de hipocrisia e de mentira em que vivem aqueles clérigos, mas, sobretudo, pelo anacronismo sádico de a Hierarquia da Igreja manter o celibato obrigatório, quando nada há na teologia que a isso obrigue.
Ficava bem à minha Igreja olhar um bocadinho mais para dentro da instituição, num momento em que tão imperativamente exerce o seu direito de reprovar o casamento homossexual, cuja legalização está anunciada.


quarta-feira, fevereiro 18, 2009

 

Temas de Braga - 21


Como eu admiro as pessoas que, pela sua ética profissional ou cívica, sacrificam os seus interesses pessoais!
Desta vez, apetece-me fazer vénia diante do arqueólogo Luciano Vilas Boas, que acaba de ser despedido do seu posto de trabalho por, segundo os jornais, cumprir o seu dever, paralisando buldozeres que estavam na iminência de destruir eventuais parcelas do património nacional.
O caso acaba de acontecer em Braga, no revolver das terras de onde há-de despontar o novo hospital da cidade.
O arqueólogo terá feito vários achados nas escavações realizadas, desde artefactos datados da idade do bronze e outros que sugerem a idade do ferro, nomeadamente cerâmicas.
Nada mais sei do que isto sobre o que se terá passado. Mas é tão raro que alguém coloque os valores colectivos acima dos proveitos pessoais, que eu não posso eximir-me ao meu dever, hoje e aqui, de enaltecer tão nobre atitude do senhor arqueólogo Luciano Vilas Boas.
E saibam os senhores de todos os poderes envolvidos, que o direito ao trabalho de tão altruísta profissional é também o direito de todos nós às raízes, à história e à dignidade.
Os tribunais já têm anulado despedimentos por causas menores que esta. Saibam os sindicatos e os senhores juízes, se solicitados, usar também a exuberância, respectivamente, do levantar do seu punho e do bater do seu martelo.


terça-feira, fevereiro 17, 2009

 

Código do Trabalho


Entra hoje em vigor o novo Código do Trabalho, depois de ter sido posta de parte a famigerada inconstitucionalidade do prolongamento do período experimental para 180 dias. A CGTP, a mais representativa central sindical, ficou isolada na recusa deste acordo. Isso não era desejável, mas nem tudo é mau nesta mudança, e não há como contornar as novas realidades sociais e laborais, que pedem respostas criativas e eficientes. O pior será nada fazer, e a CGTP pode não escapar ao rótulo de que recusa toda e qualquer adaptação legislativa às avassaladoras mudanças no mundo do trabalho.
O Código altera a flexibilização dos horários, desincentiva a contratação a prazo, alarga os direitos de maternidade e de paternidade, reforça a negociação colectiva. Uns aspectos melhores e outros piores, embora transpareça a ideia de que não há como contornar a perda de alguns direitos dos trabalhadores que se tinham como adquiridos para sempre. O mundo está diferente, tende para a globalização e, se há uma nivelação a fazer, isso só pode levar a que quem tem um pouco mais perca alguma coisa para os que têm um pouco menos ou até muito menos.
Oxalá a maior central de Portugal possa, ao menos, continuar com a sua habitual pujança lutadora e reivindicativa em prol dos trabalhadores, pois este enquadramento legal, como é próprio de um regime democrático, não proíbe nem o sonho nem a luta.


segunda-feira, fevereiro 16, 2009

 

Bolivarianos


Hugo Chavez ganhou o referendo que o pode tornar presidente vitalício. Para já, teve só 54,36 por cento dos votos contra 45,63 dos seus adversários, havendo 32,95 por cento de abstenções.
A Venezuela caminha rumo à Coreia do Norte mas ainda está longe de votar o seu líder por unanimidade. E enquanto há vida - para as oposições! - há esperança.


domingo, fevereiro 15, 2009

 

Flache da Semana - 6


Será que as eleições da passada terça-feira, em Israel, deixaram este país ingovernável?
Pelo menos, a instabilidade e a radicalização são o que temos mais garantido. Ali não há já esquerda com expressão eleitoral; há antes um empate à direita que não promete nem governo unipartidário nem governo de coligação; e resta uma sólida maioria parlamentar entre direitas democráticas e direitas totalitárias e religiosas de onde não se vislumbra nem paz, nem esperança, nem bom-senso.
Os resultados destas eleições são mais uma prova de que as guerras não resolvem coisíssima nenhuma e até eu temo vir a ficar fragilizado na minha convicção de que, apesar de tudo, Israel possuía uma espécie de supremacia moral sobre os dirigentes palestinianos por viverem sob um regime democrático.
Olhando bem para o retrato daquela região, só apetece concordar com Zeev Sternhell, que dizia em entrevista ao Público de sexta-feira passada, que "o fascismo não é a pior coisa do mundo". Mas dá pena. Dá muita pena ter de chegar a conclusões destas.


sábado, fevereiro 07, 2009

 

Flache da Semana - 5


Causou algum espanto a proposta do Ministério da Educação, esta semana, de instituir uma bolsa de trabalho voluntário e gratuito de professores reformados nas escolas. Os sindicatos consideraram a sugestão "imoral" por "haver milhares de desempregados" e "ofensiva" para os muitos professores que anteciparam a sua reforma "em rotura com o sistema" sendo penalizados nas suas pensões.
Eu penso que a proposta do Ministério é interessante embora o timing pareça absurdo, pelo menos numa primeira observação. Porque o momento é de enorme crispação e descontentamento no sector e não se vê como possam os descontentes oferecer à Tutela que alegadamente os maltrata, os seus graciosos serviços.
Mas eu gosto da ideia de ser proporcionada aos ex-professores a continuidade da sua relação com as escolas. Sem tirar a ninguém o direito ao trabalho, mas permitindo este também aos aposentados que o desejarem e na modalidade que o desejarem. Porque eu entendo que este serviço pode ser fonte de realização pessoal e uma enorme mais-valia para o sistema de educação público. Acho também que uma aposentação inactiva e fechada é, a meu ver, uma penalização ainda mais drástica que a penalização de uma pequena parcela da reforma, quando esta continue digna e de montante razoável.
Oxalá que se encontrem condições ambientais para que todos os senhores professores possam continuar activos e felizes em prol da educação e da instrução.


domingo, fevereiro 01, 2009

 

Flache da Semana - 4



O Senhor Presidente da República, Cavaco Silva, afirmou anteontem no Congresso da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), que tem informações de que "a maioria dos casos de 'novos pobres' está associada a situações de divórcio" e que "não é sinal de modernidade a dissolução progressiva dos laços familiares". Disse ainda que esta nova pobreza "tenderá a aumentar com a nova Lei do Divórcio", mas que dessas "previsíveis consequências sociais" alertou "os portugueses em devido tempo" e confessou a sua "perplexidade de como se legisla em Portugal sobre matérias com esta relevância".
Eu celebrei esta semana vinte e oito anos do meu casamento e muito me tocam estas palavras do nosso Presidente. Também acho, sem dogmatismos absolutos, que a estabilidade familiar é um bem; que está há muito ultrapassada a questão de que o divórcio é uma bandeira de esquerda e que o casamento é uma ideia de direita. Também o matrimónio não é um assunto predominantemente religioso. A igreja tem os seu dogmas respeitáveis mas a sociedade tem as suas candentes realidades.
Está de parabéns o Presidente da República, por este acertado alerta e está também de parabéns o padre Lino Maia por ter sido reeleito neste congresso para a presidência da Confederação (CNIS).
P.S. As Fotos são da Festa dos meus 25 anos de casamento.

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